AS INVERSÕES EM GENESIS
Por: João H. L. Ferreira.
Como já visto; Genesis é alegórico. Tendo aparecido há mais ou menos 4500 anos como relato verbal, tem como destinatários primários os nossos antepassados, que viviam em uma cultura que não permitia entender as verdades científicas de hoje. Assim, levando esses dados em consideração, causa espanto a exatidão do texto; mostrando verdades que só foram descobertas bem mais tarde pela ciência.
Ao ter-se isso em mente, algumas inversões, entre o narrado no texto e a vida real, nos salta os olhos. Por exemplo: Foi TARDE e MANHÃ do primeiro dia; do segundo dia; e assim por diante. Em Gênesis, o dia começa na tarde do dia anterior e prossegue pela manhã; no lugar de, como seria natural, pensarmos que o dia começa com o raiar da manhã e termina com o cair do sol; havendo inclusive, em algumas culturas primitivas, o hábito da vigília noturna; tanto para guardar os locais de convivência humana dos perigos (Predadores); quanto para manter o fogo aceso ou afastar os espíritos. Em algumas culturas, inclusive, durante a noite, além da guarda física, os sacerdotes se revezavam em oração, pedindo para que o sol se levantasse de novo no outro dia (Como se o sol fosse um ser vivo e pudesse se zangar e não se levantar no outro dia).
Dessa forma; a inversão, que foi assumida na liturgia (O Sábado começa às 6 horas de Sexta-Feria, razão pela qual todos os judeus param de trabalhar na sexta ao por do sol, em observação ao sabá, o sétimo dia, dia em que Deus descansou).
A maior inversão; no entanto; está na parte: É POR ISSO QUE O HOMEM DEIXA SEU PAI E SUA MÃE PARA SE UNIR A SUA MULHER; quando na realidade; no mundo antigo, era a mulher que deixava a casa paterna para se incorporar à família do marido.
No mundo antigo, permanecendo o marido na sua própria casa, era a mulher quem deixava a casa de seus pais. Essa saída da mulher era, inclusive, razão de segurança, pois, muitas vezes, as alianças eram seladas dando-se uma filha em casamento; em forma de submissão; pois a mulher, submissa, simbolizava que a casa que a estava dando em casamento se tornaria submissa à casa que a recebia.
A mulher, como submissa, ao ser dada em casamento; tinha que ir para a casa da família do marido; aprender os costumes de lá; literalmente deixando tudo o que conhecia para abraçar a nova família. Isso era necessário pois, muitas vezes, as casas brigavam entre si, e a lealdade da mulher deveria estar com a casa do marido, e não com a casa paterna de onde vinha. A sua submissão era questão de segurança para quem a recebia.
Esse princípio era inquestionável e vital, podendo ser gerador de morte para a mulher que não a obedecesse. Então vem a grande pergunta: Como, para o Judeu, de 4500 anos atrás, que ouvia uma inversão dessas, a aceitava como Verdade Revelada, mesmo praticando o contrário? Como ele recebia esse “mandamento” ou explicitação de comportamento (Que não existia) do texto sagrado?
Continuando com as inversões: Analisando o testo, Deus é o personagem principal. Em todo momento o texto O cita; mas, o mesmo texto, deixa Adão, comparado com Eva, em SEGUNDO PLANO. Adão, praticamente, nada fala em todo o texto. Ele somente fala, pela primeira vez, quando Eva é criada; dizendo ela ser osso dos seus ossos; carne de sua carne. Antes disso nada fala. Na narrativa, a serpente se dirige à Eva. Alguns dizem que ela aproveitou o momento que Adão não estava, mas eu acho que ele estava presente o tempo todo; mas nada falou..... Então, Eva dá a maçã a Adão, que SIMPLESMENTE COME, SEM NADA FALAR. Há os que defendem que Adão não estava presente quando Eva falou com a serpente; mas se assim o foi; mais espanto se tem: Ao ver Eva com a maçã na mão ELE NADA FALA; mesmo estando escrito que, só de tocar na maçã (Ou quem sabe na árvore), o homem morreria. Mesmo assim,. Adão NADA FALA. Nem sequer para perguntar como podia Eva tocar na fruta sem ter morrido. Isso (Não estar surpreso ou questionar Eva viva com a maçã na mão) só se explica por que ele ESTAVA PRESENTE quando a serpente conversou com Eva; e, estando presente, tudo ouviu e tudo viu; sem falar nada, percebendo que talvez a serpente pudesse estar certa.
A pergunta que não quer calar é a seguinte: Por que Adão que, deveria ser o “cabeça” do casal; FICA CALADO e deixa Eva decidir o destino da humanidade?
A chave vem da passagem em que Deus SENTENCIA Eva: VOU AUMENTAR O SEU SOFRIMENTO NA GRAVIDEZ, E COM MUITA DOR VOCÊ DARÁ À LUZ FILHOS. APESAR DISSO, VOCÊ TERÁ DESEJO DE ESTAR COM O SEU MARIDO, E ELE A DOMINARÁ.
Note que, Deus primeiro sentencia a serpente ao seu castigo; sentenciando-a a se rastejar (Aplicou a pena) e pôs inimizade entre ela e a mulher. Depois se volta para Eva, que PECOU; sentenciando (Pena / condenação) a sofrer ao parir os filhos; mas apesar do sofrimento, a desejar procurar o marido para manter relações e ter mais filhos. A sentença, no entanto, não para aí. A sentença continua: Que ELE (O seu MARIDO; e não o desejo) A DOMINARÁ; pois se fosse o DESEJO seria redundante. Assim, a sentença (Penalidade pelo pecado) é que EVA será submissa ao marido (Ser DOMINADA). Ora, se isso é SENTENÇA, é PENALIDADE, representa um castigo ou UMA PERDA, é por que ANTES da sentença ela (Eva) NÃO ERA SUBMISSA À ADÃO. Será que o paraíso era um matriarcado?
Alguns estudiosos dizem que, nos primórdios, a humanidade era matriarcal e que Gênesis foi relato de uma época onde houve a passagem do matriarcado para o patriarcado, legitimando a dominação do homem sobre a mulher. Será que de tantas inversões, esta simboliza a passagem do MATRIARCADO para o PATRIARCADO. Uma justificativa do poder do homem sobre a mulher. Mas isso é papo para os antropólogos e estudiosos.
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